100 Belezas Negras de 0 a 100 Anos nasceu a partir do desejo de homenagear, através do registro fotográfico de 100 pessoas de várias idades, a população negra de Espírito Santo do Pinhal, cidade do interior de São Paulo conhecida como Rainha das Serras e capital nacional do café.
No contexto desse lugar com tanta história para contar, o projeto vem dar o protagonismo ao povo preto da cidade. Cada pessoa que foi fotografada traz em seu semblante um pouco de sua história, e essas histórias somadas compõem o inconsciente coletivo dessa população negra, com suas marcas de resistência e de luta diária contra o preconceito. O projeto vai além e traz, além das fotos, uma série de depoimentos colhidos dessas pessoas, suas histórias de vida e suas impressões sobre a essência e a beleza negra. As fotos são divididas em 4 salas, e cada sala leva um nome de uma personalidade pinhalense homenageada em nosso projeto: Carlinho Acaiabe, Eduardo Rodrigues, João Rosa e Tia Nica. Mas não haveria como não homenagear mais uma ilustre figura que esteve presente no projeto em sua concepção. O ator João Acaiabe, que seria o narrador da nossa exposição, infelizmente nos deixou para a Covid este ano. Para homenageá-lo, foi feito um convite para que seu sobrinho, Eduardo Acaiabe, viesse integrar nossa equipe, narrando uma bela história que abre nossa exposição. Para compor esse ambiente e contar esse enredo através das fotos e narrações, foi criada também uma trilha musical original baseada em estudos sobre a musicalidade negra, desde suas origens até seus desdobramentos no Brasil.
Por quê fazer 100 Belezas Negras?
No ano de 1888, no período em que o fim do regime escravista era iminente, Espírito Santo do Pinhal ficou marcada por ter libertado todos os escravizados do município antes da promulgação da Lei Áurea, sendo a primeira cidade do estado e a segunda do Brasil a abolir a escravidão.
Mas Pinhal, como muitas cidades do Brasil, teve um processo de apagamento e de desvalorização da história do povo preto. As consequências da escravidão perduram até os dias de hoje, gerando processos dolorosos que necessitam de ferramentas de superação e de autoafirmação do movimento negro.
A beleza negra vem ganhando mais destaque nas mídias de alguns anos para cá, mas o caminho a percorrer contra o racismo ainda é muito longo e muito árduo, ainda mais se tratando das classes menos favorecidas, que sofrem duplamente o preconceito. O fato é que, senão todos, a esmagadora maioria dos negros já sofreram na pele o racismo, e ele começa bem cedo, na infância, deixando marcas às vezes para uma vida toda.
O processo de seleção das nossas cem belezas negras começou com uma convocatória na rede social Facebook de uma das ilustres e mais conhecidas mulheres da cidade, a escritora e professora aposentada Leila Marisa, que idealizou este projeto há muito, muito tempo atrás. Sendo Leila uma pessoa com forte engajamento nas redes, rapidamente a notícia se espalhou e diversas pessoas começaram então a demonstrar interesse e mandar suas fotos, convidando também familiares e amigos a mandarem. Dessa forma, fomos recebendo e conhecendo ao longo dos primeiros meses do ano uma diversidade enorme de personalidades que queriam estar conosco, de diferentes famílias, bairros, regiões, idades, crenças, culturas. No mês de maio, quando o projeto se iniciou oficialmente, já tínhamos uma lista de mais de 70 pessoas. A partir daí começaram os contatos por telefone, onde pudemos explicar mais detalhes do projeto, e fomos então confirmando quem de fato participaria. Com a divulgação nas redes sociais oficiais do projeto, a partir de junho, outras pessoas nos procuraram e finalmente chegamos na lista final das 100 Belezas Negras, que na verdade são mais do que 100, pois várias pessoas quiseram registrar esse momento em uma fotografia de família.
Através da realização da sessão de fotos, dos depoimentos colhidos e da posterior exposição artística de todo esse intenso trabalho, muitas dessas pessoas puderam e poderão, através de um processo simbólico, recuperar sua autoestima e influenciar seus parentes, amigos e sua comunidade a se identificarem neste processo também, fortalecendo a representatividade. Além disso os visitantes poderão conhecer um pouco dessas personalidades, muitas vezes anônimas e sem voz na sociedade, passeando pelos retratos das novas gerações e das antigas, e pelo que cada uma contribuiu ou contribui para a construção e preservação da identidade local e para a diversidade cultural.
Depoimentos
toda história que se preze se inicia com o bom e velho era uma vez.
idealização
Leila Marisa de Souza Lima Silva
concepção
Allê Trajan e Carol Capacle
produção executiva
Carol Capacle
fotografia
Cia da Hebe
fotógrafo
João Barim / Cia da Hebe
assistentes de fotografia
Ariana Estela e Letícia Lunga / Cia da Hebe
produção das fotos
Mônica Sucupira e Tika Tiritilli / Cia da Hebe
projeto gráfico e web design
João Barim e Leandro Pereira / Parênteses
composição e direção musical
Allê Trajan
letras das canções
Carol Capacle
músicos convidados
Allê Trajan (violão e voz), Carol Capacle (voz), Matheus Marques Profeta (percussão), Eurico Silva (gaita), Paulo Rodrix (guitarra), Eduardo Souza (teclado e acordeon), Claudio Capacle (cavaco) e DuettO (Lucas Eduardo e Hebert Bruno – percussão)
mixagem
Eduardo Souza (MSouza Estúdios)
masterização
Nova Digital e Finalize Audio Mastering
narrações/voz e texto de abertura
Eduardo Acaiabe
poesias
Leila Marisa de Souza Lima Silva
gravação narrações
Nelson Dutra (Estúdio Cria Cuervos)
edição vídeo abertura e teaser
João Barim
captação de depoimentos e edição vídeo final
Carol Capacle
social media
Rafaela Assis e Carol Capacle
assistência de pesquisa
Eurico Silva e Marilze de Souza Lima Bertoldo
assistência de produção
Eurico Silva
cenário fotografia
Mônica Sucupira e João Barim
apoio cultural cenário
Casalecchi Center
bonecas belezas negras
Isabel Castro
assistência administrativa
Mariana de Castro
apoio institucional
Departamento de Cultura e Prefeitura Municipal de E. S. do Pinhal